7 de fev. de 2010

Tudo é importante; nada é sério

Mundo transitório, insubstancial. Nas ideias e nos produtos. A adolescência da minha geração viu essas mudanças. Algumas coisas acompanhamos, outras corremos atrás. Um adolescente de hoje dificilmente conseguiria imaginar um mundo atual sem internet e controle remoto, por exemplo. No mínimo, acharia a vida um tédio. Particularmente, nunca pensei que existiria algo além do disco de vinil. A transitoriedade da vida utilitária transformou-nos em seres usuários e não mais pensantes.
Tudo é rápido. A linguagem está encolhendo. Uma palavra pode hoje traduzir um rizoma de sensações, um simples “hum, vixi ou eita”. A comunicação, na maioria das vezes, passou do diálogo e da reflexão para “torpedo” e manuais de instrução das coisas que adquirimos. Acredito que a casta mantenedora de uma certa lógica de sentido sejam os motoristas de táxi. Na tentativa de diminuir o tédio que é o percurso, transcendem à velha fórmula do papo sobre o tempo, divertindo-nos sobre os mais variados assuntos, desde teoria da conspiração, efeito borboleta e o clichê de falar mal do PT e dos fiscais de trânsito, vulgo azuizinhos.
Nesse mundo em desencanto a rapidez com que as coisas vêm e vão parece ter-lhes tirado a essência, esta no sentido de digerirmos o que acontece à nossa volta. Se não digerimos não damos a devida importância, ou mesmo, nenhuma. Um relacionamento fulminante de alguns meses pode ter a intensidade de uma vida inteira.
Ao passo que a realidade vai mudando constantemente, criamos uma visão neurótica de não conseguir acompanhar o que está a nossa volta. Com freqüência nos encontramos diante de situações das quais não conseguimos discernir o que é mais importante. Às vezes tudo parece importante, às vezes, nada. O trabalho ou mais tempo com a família. Estudar para crescer profissionalmente ou aproveitar mais os momentos de folga. Correr atrás dos sonhos ou “sossegar o pito” , como diziam os antepassados. Até mesmo o prazer momentâneo, hedonista, tem sido combatido ferozmente pela mídia atual. Será uma busca retrógrada pelo significado das coisas? Será que estariam implorando para que parássemos um pouco e víssemos a vida passar? PPS pra isso é o que não falta.
A tradição judaico-cristã oferecia-nos de bandeja, princípios e regras que diziam-nos o que era importante e o que podia ser desprezado. O final do século XIX duvidou dessa normatização, vindo a imperar o relativismo, tanto que virou mote a frase “a sua verdade não é a minha”. Lá se foi o plano hierárquico das importâncias. De um século para outro tudo tinha a mesma força ou nada tinha força.
A transitoriedade dá sentido ao conceito de impermanência. Pessoas mudam ideias e crenças com muita facilidade, ou as assimilam dentro de seus próprios territórios de pensamentos. Entretanto muito do que fazemos está atrelado ao que pensamos ser certo fazer. Mas como esse pensamento muda rapidamente, mudam também as atitudes e com isso não sabemos mais quem somos, ou quem pensamos ser.
Outro fator preocupante é nossa visão do tempo. Como ocupá-lo. As alternativas são muitas, as atividades diárias aumentaram e o tempo parece ter encolhido. Proponho uma reforma no movimento da Terra: um dia de 48 horas (com as mesmas oito horas de sono) e um ano de 730 dias. Nossa pineal teria que se adaptar, mas tudo bem. Aliás, o tempo acabaria por passar rápido também, pois acharíamos mais coisas pra fazer.
Foi pensando em toda essa problemática que criei uma solução simples. Julgar tudo importante, não desdenhar de nada, mas não levar nada a sério totalmente. Como os gregos, primo pela moderação. Num extremo do cabo de força está o mundo atual, pró-ativo, das decisões rápidas e das iniciativas que levam ao “sucesso”. Do outro lado, o não-agir, a contemplação, a inatividade dentro da atividade. Bem, eu ajo, faço o que posso, mas não dou bola pra isso. Afinal, é importante, mas não é lá tão sério assim.
Numa de suas geniais crônicas, Luís Fernando Veríssimo disse que só usava calça bolso faca, sabendo que a moda um dia, o alcançaria. É disso que falo. No eterno retorno diferente, de longe, desterritorializado, tudo parece parado e da mesma cor, como no efeito doppler.

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