26 de fev. de 2010

Ciúme (digital) de Você

Roberto Carlos que o diga. Os do Ultraje a Rigor também. Desdêmona sofreu nas mãos de Otelo. O assunto não poderia ser mais antigo e tão atual. Com suas linhas de fuga, é claro.
No meu passado infante, sentia-se ciúme. Hoje, se tem. Antes de assumir qualquer relacionamento, a pessoa já vem carregada de ciúmes. Já enxerga a relação com o filtro da possessividade e desconfiança. Pior. Os ciumentos de plantão têm hoje armas e instrumentos variados para alimentar o ciúme. O mundo digital. Este tem sido uma verdadeira fábrica de paranóias, muitas, sem cabimento.
Todos sabem o que é o ciúme e o que ele representa na vida emocional de uma pessoa. Há quem diga que um “ciuminho” esquenta a relação. Há quem diga que ele estraga. Mas, ele sempre estará lá. É a gasolina que nos move à loucuras, que frequentemente nos levam ao arrependimento posterior. E muito prozac.
Voltando ao assunto, o ciúme alcançou o ciberespaço. Tudo porque no mundo digital moderno a palavra de ordem é controle, observação. Ironia... a internet não é controlável. O ciúme carece do controle para subsistir. Mas existe um sem número de defesas contra isso: o celular que acabou a bateria, pois está no silencioso; apagar scraps que possam ser mal interpretados; bloqueios no MSN, etc. No namoro virtual, um simples oi pode virar caso de divórcio. Não se vêem, não se controlam, aumenta a ansiedade. O velho ditado “olhos que não veem, coração que não sente” não tem valor nenhum aqui, nesse território.
Nunca o olhar foi tão importante quanto no mundo atual. Como saberemos se aquelas palavras tão doces digitadas serão verdadeiras se não mirar o olhar alheio? Se não ouço seu tom de voz? A dúvida está contida na insegurança e ela é o botão de autodestruição da auto estima. Otelo bem o soube por causa do lenço. Nós, hoje, o sabemos por mensagens.
Num mundo onde a privacidade não é mais tão valorizada assim nos locais públicos, a observação passou a ser a principal máquina de controle. Não adianta espernear, ninguém quer viver sem o poder do controle, ainda mais quando se refere à pessoa amada. Hoje em dia, ao lado das juras de amor está o inquérito policial.
Foi o que aconteceu com Suzi, no seu ‘”otelo particular” digital. Seu namorado Júlio, promotor de festas, recebia vários scraps de amigos e amigas, alguns profissionais, outros pessoais. Suzi instalara um programa que gravava mensagens, mesmo que Júlio as apagasse. Uma mensagem, então foi o fim: “te espero amanhã no aeroporto, às 16h, não falte, é importante”. O coração de Suzi tornou-se uma usina nuclear. A cabeça rodava. Havia se preparado bem para pegar Júlio, mas em nenhum momento havia se preparado para o que fazer. Chorou, desesperou-se. Ligou para o celular dele, desligado. Noite, sem MSN. Meia-noite passada, Júlio liga, bêbedo, trocando palavras, Suzi desliga na cara. Na manhã seguinte o namoro acaba por orkut. Ele não luta, aceita. Ela o amava, mas não poderia conviver com aquilo.
Dois anos se passam, Suzi não confia em mais ninguém. Sente-se sozinha. Recebe um e mail de Júlio depois de todo esse tempo: uma foto de Paris, ao lado da namorada, Marie Elise. O texto que seguiu à foto, era assim: “há dois anos estou em Paris, consegui o emprego da minha vida, e esta ao meu lado é Marie Elise, minha namorada, casamos mês que vem, espero que tu estejas bem”
Era esse então, o nome da outra? Ela era francesa?
O saudosismo bate à porta muitas vezes, depois que o amor se vai. Ela revira e mails antigos e acha um que não deu muita bola na época: “Suzi, sei que não presta muita atenção ao que lhe digo, mas vou te dizer: amanhã me encontrarei com uma agente de uma multinacional no aeroporto, ela precisa viajar. Quer falar comigo sobre um emprego que almejo há tempos. Deixarei o celular desligado, e se der certo, me encontrarei com meus amigos no bar e de lá te ligo. Torça por mim. Beijo. Júlio.”
Onde estiver teu foco pensante, aí residirão teus problemas.

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