21 de fev. de 2010

Ano da Copa

Patriotismo. Sentimento em extinção? Não o estou defendendo. Não o defendo, muito menos o ataco (só não me fale mal do Inter). Afinal, o patriotismo é um sentimento. Sentimento é uma força. Contra ele não se argüi. Respeita-se somente. Esse é o senso comum. Creio que seja por isso que a frase tão famosa “política, mulher e religião não se discutem” seja tão valorizada. Estes três elementos estão intimamente ligados ao sentimento.
O ano de 2010 já começa com um sentimento velado de patriotismo, mais por uns, menos por outros. A morte de soldados brasileiros no Haiti gerou comoção nacional. Não lutaram em nenhuma guerra, mesmo tendo sido altamente treinados para isto. Estavam lá para garantia da paz. No entanto, a batalha foi muito rápida. Nem tiveram tempo de organizar defesa. A bandeira brasileira sobre os caixões na cena do discurso do presidente deu ao evento um cenário lúgubre de comiseração. Morreram pela pátria, os filhos da pátria. Longe dela.
Existem dois eventos que, curiosamente, não se separam e são também motivos para sentimento patriótico: são as eleições presidenciais e a copa do mundo. Elas acontecem sempre no mesmo ano, e não deve ser por acaso. A seleção brasileira era nas décadas de 1970 e 1980, o que nos salvava do escárnio de pertencer ao famigerado Terceiro Mundo. Tínhamos o futebol mais alegre e mais bonito, mesmo não vencendo o campeonato mundial. Chegávamos quase lá... e morríamos na praia. Bolas entregues de bandeja, pênaltis perdidos e conseqüentes ataques do coração de torcedores. Quantas bandeiras e cornetas jogadas fora pela frustração. Mas não perdíamos a esperança. Década de 1990, Brasil no mundo neoliberal da globalização. Conquistamos o tetra. Elegemos presidentes. Ano de 2002, inserção do Brasil numa aldeia global onde todos querem ser caciques, e o penta. Época de ouro. O país do futebol... E da corrupção, inflação, desigualdade social, criminalidade. Diferente de hoje? Pois é. Não vivíamos de bolsa isso, bolsa aquilo, mas até hoje, em algumas situações é “a bolsa ou a vida” .
Todo ano de eleição é importante, não porque haja eleição, mas por causa da copa do mundo. E o futebol conquistou o mundo. Até os EUA tem seleção e eu nem sabia que lá existem times profissionais. Classificam-se para finais de alguns torneios inclusive. Arrisco um palpite; a hegemonia norte-americana perdeu seu encanto quando a sua seleção perdeu de um a zero, em pleno 4 de junho de 1994. Um prenúncio de que no futuro o Brasil seria a grande potência da América. Os livros de história ainda citarão essa crônica como profética. Vejamos: 4 + 1 + 9 + 9 + 4 = 27; 2 + 7 = 9. Nove é o mês de setembro. A seleção norte-americana perdeu, na sua própria casa, de um gol, portanto, 01 = 2001. Foram 11 contra 11 naquele jogo, o que nos leva a uma conclusão profética: 11 de setembro de 2001.
Cálculos à parte, a atenção do brasileiro concentra-se na copa. A campanha presidencial inicia-se tarde, embora já saibamos praticamente quem está no páreo e quem vai fazer charminho até a última hora. Mas até o final de julho, quando acaba a copa, a campanha presidencial é uma mera sombra desta, resumida a eventos de noticiário e os velhos discursos sobre educação, saúde e educação. Mas o brasileiro lutará por Ronaldos ao invés de lutar pelo meio ambiente.
Torcemos todos por um país mais justo, livre da pobreza e da corrupção. Torcemos também pelo hexa. Essa torcida possui a mesma intensidade? Quer dizer, torcemos por um Brasil melhor tanto quanto por um hexa campeonato mundial? Ou, somos todos brasileiros apenas nas quartas de final? Não somos mais o país terceiro mundista que vivia de empréstimos. Além do que, nos últimos 20 anos, destacamo-nos em outras modalidades esportivas, tais como fórmula 1, judô, vôlei e natação.
Esse ano, pra variar, proponho um desfoco: maior concentração na eleição, no programa dos candidatos e suas promessas. A copa que fique para julho, que é o lugar dela. Normal para um país “democrático” que tem o voto obrigatório. Exercitemos a consciência e a responsabilidade de conhecer os programas de governo e cobrar promessas dos eleitos. Responsabilidade nossa de saber exatamente quem auxiliou a corrupção e quem nos fez de bobos.
Quem sabe essas práticas responsáveis não farão com que minha profecia esteja realmente certa, e o Brasil seja a maior potência da América um dia? Um bom hexa para todos, mas principalmente, um Brasil melhor para todos nós.

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