10 de fev. de 2010

Catástrofes

Pode até haver um propósito para a vida, não discuto isso. Para a morte, no entanto, não há. Simplesmente se morre. E ponto. Quando a morte é compartilhada entre muitas vidas, sem aviso prévio, de sopetão, temos uma catástrofe.
Sempre acontecem, não importa onde e quando. A catástrofe não escolhe bons e maus, cristãos ou muçulmanos, colorados ou gremistas, petistas ou psdebistas. Não escolhe ninguém, pois não tem vontade. Os que morrem e os que se salvam fazem parte do campo das probabilidades. Estaria eu sendo frio e calculista? Não. Apenas vejo a saúde sob o ponto de vista da doença.
Catástrofes, normalmente, vêm de causas naturais podendo atingir um grande número de pessoas. Se um terremoto acontecer num deserto ninguém lamentará a morte de cactos e répteis. A centralidade é o ser humano. Qualquer estudioso desses fenômenos dirá que são as placas tectônicas, em suas variadas nuances de movimento. E para o público leigo, a escala Richter não diz muito, embora cada índice aconteça numa relação algorítmica. Deveria haver uma nova forma de demonstrar a magnitude de um terremoto, principalmente numa sociedade consumista onde o R$ 3,99 “tem” uma enorme diferença para o R$ 4,00.
Há precaução para esse tipo de coisa? Dizem alguns que observando os animais. Conseguem pressentir uma catástrofe muito antes que ela se manifeste. Ouvi dizer que nenhum animal selvagem morreu no tsunami que atingiu vários países em 2005. Se for assim, posso ficar tranqüilo. Simba, meu gato de estimação dorme sob os meus pés enquanto escrevo esta crônica.
O que se faz depois da catástrofe, caso sejamos, você e eu sobreviventes? Estocar alimentos parece ser uma boa pedida. Água também, contanto que a casa onde moramos não seja atingida. Acredito que nessas horas, surjam, do nada, muitos heróis que ficarão para sempre no anonimato. De qualquer modo, tentar manter a calma e procurar ajudar os que necessitam até que o socorro especializado apareça, parece ser a melhor coisa a se fazer. De resto, o momento ditará a melhor atitude.
Por que as catástrofes que acontecem longe da gente ganham mais popularidade do que aqueles que acontecem próximos a nós? Porque matam mais gente? Porque atingem países mais pobres do que o nosso? Ou existe um sentimento de redenção inconsciente por não termos sido diretamente atingidos? Ou não achamos as nossas catástrofes tão grandes assim? Choram pais e esposas que perderam filhos e maridos na missão de paz do Haiti. Choram os fãs da Dra. Arns, a heroína que ficará para a posteridade (ela não era anônima, como muitos heróis). No entanto, choram igualmente as vítimas das chuvas que assolam o país desde o segundo semestre do ano passado. Sofreram e sofrem com a falta de alimentos e o atraso no envio de recursos para dirimir a situação.
As catástrofes têm sido um show à parte, na mídia. Principalmente a nossa época que não convivemos com a morte ao nosso lado, em comparação com períodos do passado. Morre-se em hospitais. Fico pensando numa catástrofe que durou anos a fio como a peste negra. Os corpos, em muitas vilas, jaziam no meio da rua, aumentando a incidência da peste bubônica e outras doenças. Só era enterrado aquele corpo cuja família pudesse custear o enterro. Convivia-se com a morte, no cotidiano. A mortalidade infantil era intensa. Infecções, guerras. Morria-se muito e a olhos vistos. O medievo via a morte de uma perspectiva bem diferente da atual, independente de visão religiosa. De tão fantástico que a mídia transformou as catástrofes, elas ficaram parecendo coisas virtuais, ficção científica, menos, é óbvio, para quem sofre o problema.
A esses que sofreram na carne, meu respeito e consideração. Aos heróis incógnitos, minha homenagem sincera. E a questão: até quando os governos não estarão preparados para catástrofes naturais? Simba até já está começando a se agitar nos meus pés aqui.

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