18 de jan. de 2012

Subir a PIPA não será SOPA

Comum se alguém pensar na pipa como algo fálico. "A pipa do vovô não sobe mais" é mote de marchinha de carnaval. Mas esta pipa não. Esta não é sopa. Ela trata de algo que só não veio antes porque o mundo da informação é invisível e funciona na velocidade da luz, em detrimento à máquinas governamentais, ultrapassadas, lerdas e confusas. Mas quando atuantes, destruidoras.
E lá voltamos nós aos ditames da Idade Média. À opressão do pensamento, da liberdade de expressão. Qualquer expressão. Baixaria ou erudição são todos cultura, carentes de interpretação. Funk é música? Hip Hop é música? Pixação é arte? Preconceitos, sempre eles. Haverá sempre um a tentar barrar o desenvolvimento da livre expressão de pensamento. E claro, Tio Sam tem que ser o primeiro. Em nome da propriedade intelectual e do combate à pirataria.
Engraçado. O que é pirataria? Produzir deliberadamente a invenção de algum outro povo sem pagar a este o royalty necessário? Humpf. Se assim for, o ocidente deve uns cinco séculos, no mínimo, de direitos autorais aos chineses, prováveis inventores da pólvora. Ah, e da tipografia também. Gutemberg apenas tornou o processo de imprensa chinês mais rápido. E o que dizer da massa? Italiana? Tolinho. Ela é chinesa. É pirataria. Da grossa. Mas é passado, e os chineses têm hoje uma invenção que eles fazem questão que todos imitem pelo simples fato de que já são modelos: o "socialismo de mercado", a forma mais perfeita de exploração social e welfare state já conhecida, mas ainda não reconhecida (claro, não foi o Tio Sam quem inventou). Este, caro leitor é o tema da SOPA (em inglês, lei para impedir a pirataria online).
Vamos à PIPA (em inglês, a lei que protege a propriedade intelectual). Fico elucubrando sobre a "propriedade" intelectual. Um pensamento meu, só meu. Produto meu. Sinapses árduas fabricando insights. Neurônios deram a vida por uma ideia. Sócrates (se é que existiu) reivindicando sua frase "só sei que nada sei" de intermináveis livros de filosofia e literatura. Mas ele mesmo roubou a propriedade intelectual de alguém, quando afirmou o "conhece-te a ti mesmo", frase que não foi dele, mas estava no portal de entrada do Oráculo de Delfos. Esses norte-americanos, políticos leitores de Times e Marvel Comics não se dão conta que propriedade intelectual é uma abstração de um desejo infantil do "carrinho é meu". Ninguém tira uma ideia do nada. Há uma arqueologia do saber que proporciona um mundo infindável de ideias que se em desuso, tornam-se "novas" da noite para o dia. Nunca se criou algo, no plano humano. Sempre se desenvolveu o que alguém outro pensou. E não houve quem tivesse o primeiro pensamento. Até o plano da abstração, o ser humano primitivo foi prático. E de prático, a pragmático. E aí caímos na PIPA que só tem SOPA dentro.
A internet está acima das leis norte-americanas. Não que elas não tenham poder. Mas os norte-americanos, de tanto virem curtir o carnaval tupiniquim, acabaram aprendendo a usar o jeitinho brasileiro de resolver situações intrincadas com muito bom humor e disposição ao som de "ai, ai, se eu te pego". Hoje, sites norte-americanos deverão protestar contra esses dois projetos de lei a serem votados. Mas a internet, o Kraken pós-moderno que veio para destruir o poder opressor que se vale do controle de informações para exercer este mesmo poder, saberá contornar possíveis problemas surgidos com as leis criadas. Hecho la ley, hecho la trampa, como dizem os espanhóis. O universo internético é o poder impessoalizado. Não há quem o detenha. É a anarquia na melhor acepção do termo. A liberdade continuará e o Wikileaks foi só o começo do fim dos Estados Nacionais orgânicos, elitistas. Não estarei vivo para contemplar esse admirável mundo novo, mas esta crônica estará, com certeza.
Minha crônica ficará aqui, dando SOPA, enquanto acho que vou ali, tentar levantar uma PIPA (uma, não a minha).