25 de mar. de 2010

Três Cuecas, minhas Parcas.

Sim. Tenho TOC. Em determinadas proporções, todos temos o toquezinho nosso de cada dia. Alguns aceitáveis, outros bizarros. Um dos meus é excêntrico: são 3 cuecas que deixo no banheiro secando, usando uma enquanto as outras duas secam. Estranho? Não. Metódico e diria com ousadia smithsoniana do pré consumismo: econômico. Uso as três sempre. Tenho outras, não sou sovina. Mas estão lá no guarda roupa, em stand by, como o reserva que espera ansiosamente para entrar no jogo.
Essas cuecas têm um significado que transcende ao utilitarismo de sua função pétrea de segurar e proteger minhas jóias: elas me dão a noção da passagem do tempo, do inexorável chronos que devora-nos pouco a pouco todos os dias. Duas azuis e uma preta. Não sou gremista, é que gosto de cores padrões. Cada vez que coloco a preta, seca depois de dois dias, dou-me conta que o tempo passou. Isso não é mais comum, ver o tempo passar. O mundo moderno transformou o dia num antro de atividades rápidas ansiando por soluções urgentes, e não mais por manhã, tarde e noite. Por isso as cuecas: elas me fazem parar pra ver que o tempo passa.
Não só passa, mas faz com que nos ajustemos, nos adaptemos, e, infelizmente, depreciemos. Aos pouquinhos, órgãos e partes vão funcionando com menor eficácia. Uma delas falirá primeiro. Uma de minhas cuecas já dá mostras de impotência. Já não tem mais elasticidade, perdeu a cor. Eu a fito, e sei que ela também me olha com a mesma expressão que diz: — eu vou primeiro, mas um dia nos encontraremos na reciclagem da vida. Ela sabe que será substituída logo, mas não fala, não reclama, não reivindica conserto. Sabe que na imanência da vida, o retorno é sempre diferente. Sabe também que outras cuecas já estão no aquecimento.
Curiosamente, as parcas gregas, donas do destino, também eram três. Também são três, as visões diferentes do tempo para os gregos. Minhas 3 cuecas no banheiro (duas, pois uma estou usando) são as minhas parcas particulares. São elas que me mostram que um dia, haverei de ir, para que outro entre no jogo da vida. Mas, como elas, não reclamo nem reivindico. Abnego-me. Resigno-me a esse faminto chronos, que leva minhas forças, mas não leva minha teimosia em criar, e recriar. Talvez essa seja a eterna reciclagem: a criação.

Um comentário:

  1. Olá, eu acho que você gosta deste quadrinhos sobre o Fates :D
    http://hilandoeldestino.com

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