2 de mar. de 2012

Educação Doméstica

Existe. E é legal, no sentido jurídico. A Educação Fundamental é obrigatória, não a Escola. E é a real educação, quando praticada. Ensinar os filhos em casa é, hoje, a verdadeira revolução no ensino. Por que? Simples. Porque elimina todos os vetores ditos prejudiciais ao desenvolvimento psíquico saudável de um primata com telencéfalo desenvolvido e polegar opositor.
Sim. Somos animais sociais. A vida em sociedade foi o que nos permitiu sobreviver. As ferramentas e a comunicação sofisticada nos deram a força que não tínhamos para enfrentar predadores. A civilização nos deu poder. E este poder, para manter-se, precisava progredir. Aí vieram as Escolas. Mas a eletrônica e a informática nos deram o que eu chamo de última fronteira do poder: a autonomia. A informação é questão de escolha. E escolha com liberdade de julgamento. Mesmo sociáveis, há momentos em que buscamos fazer coisas nós mesmos.
Mas, por que NÃO à Escola? Não falo em termos globais, mas regionais. Veja-se a propaganda que se faz sobre a Escola Particular, por exemplo: frases soltas de efeito, cuja centralidade ou é a metanarrativa "preparar para a vida" ou é "vestibular e profissão de sucesso". Um out-door daqui de Porto Alegre ilustra bem esta hipocrisia social. Um modelo fotográfico de jaleco e estetoscópio a tiracolo, com cara de fauno sedutor e um sorriso "técnico" no rosto. A frase, "sou médico, fui farroupilha" engendra uma lógica linear na qual exclui naturalmente toda e qualquer concorrência, pois o cérebro tende a reduzir ideias a uma centralidade. Deveria-se fazer sim, uma pesquisa científica para ver quantos fizeram esta ou aquela Escola e tornaram-se profissionais do crime. E postar num out door. Como havia dito. Autonomia. Escolha.
A Escola não detém conhecimento. Um número significativo de professores do ensino médio ainda dão aulas pelo famoso Esquema 2, isto é, são bacharéis e não licenciados. Não fizeram disciplinas didáticas e o discurso "eles que se virem" acabou virando regra. Difícil uma Escola Pública que não tenha professores faltando. E existe um descontínuo institucionalizado. Licença-prêmio, migração, contrato emergencial, acabam por prejudicar o desenvolvimento educacional da criança e do adolescente.
Professores combalidos por horas extras de atividades sem remuneração sofrem da síndrome da desistência, e é comum ouvir-se dizer que esperam a tão valiosa aposentadoria especial. Dar aulas sem motivação e recursos cansa. Sobre recursos, há uma análise ótima sobre isto: se a medicina tivesse progredido tanto quanto progrediu o ensino, os médicos ainda praticariam a sangria.
A Escola sociabiliza. Sim, é boa para quem tem uma genética favorável e é forte fisicamente. Desde cedo sabe-se quem manda e quem será mandado. De uma forma cruel e pré-histórica, como faz uma criança que não foi civilizada pelos pais. Sabe-se também quem tem mais posses, fazendo com que o limitado de acessos ao consumo veja seus pais como fracassados. Ótimo para a auto estima...baixa.
Educação em casa. A lei permite. Conteúdos básicos a serem vencidos, mas o melhor: a autonomia do que queremos ensinar a nossos filhos. Observar suas habilidades e tendências naturais e deixá-los escolher o que querem saber. Não uma Escola impositora, punitiva e disciplinadora para um mundo de competitividade desleal. Esforço dos pais. Dedicação. Pais e filhos aprendendo juntos, todos os dias. Sem o stress do acordar cedo, respeitando o relógio biológico; sem a preocupação do melhor tênis; sem o medo da humilhação por parte de professores e colegas. Não uma vida monástica, pois amizades se constroem no dia-a-dia. À Escola sobrou a função de ser depósito de filhos. Com direito a segurança privada nas particulares e brigadianos aposentados nas públicas.
Ensino domiciliar. Solução? Não. Contraponto. E um recomeço de algo melhor.

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