22 de dez. de 2011

Caim e Abel: A criação dos Filhos

Ho, ho, ho... Neste Natal, dê presentes. Muitas dívidas? Novos financiamentos. Cheques voltaram? Renegocie-os. O 13º já foi gasto no fim do ano e os banqueiros estão felizes com isto? Comprometa o décimo do ano que vem. Pode ser que algum dia o Senado aprove o fim do décimo terceiro, aí banqueiros não demonstrarão alegria, apenas indiferença. Afinal, com sete bilhões de pessoas no mundo, basta aumentar as tarifas alguns centavos.
Filhos ganham presentes, óbvio. Pais podem não ganhar, avós podem receber cartões de alguma instituição filantrópica, tios podem ganhar aqueles e mails natalinos maravilhosos do tipo "lembramos de você" (e de toda a lista de contatos), mas os filhos ganham presentes. Têm de ganhá-los.
Ganham a mesma coisa? Não. Mesmo porque não pedem a mesma coisa. Mas o que acontece? Em alguns casos, a "outra" coisa é melhor do que a "sua" coisa.
Parafraseando o grande Inácio, "nunca na história desse país", se comparou tantos as coisas. Trabalhamos nosso cérebro por comparação quantitativa e de valor agregado, a fim de sabermos se o que temos é bom ou não. No caso das crianças, irmãos, o do outro é "sempre" melhor. Minha filha menor pediu um note. Ganhou. A minha maior, um PC. Ganhou. Qual é o discurso agora? A maior diz que o note é melhor porque dá pra carregar pra lá e pra cá. A menor diz que o PC é melhor porque dá pra jogar jogos pesados. Nem a gregos nem a troianos. Muito menos a portoalegrenses.
Sabe aqueles enfeites de Natal que ficam nos pinheiros? Aquelas bolas? Sabe o que elas significam?
As bolas de enfeite de Natal simboliza o presente que toda a criança pobre ganhava na Europa Medieval. Maçãs carameladas. É, isto que você leu mesmo. As crianças ficavam contando dias para receberem de presente, maçãs carameladas. Comiam-nas, devoravam-nas e começavam a contagem regressiva para o próximo natal. Era este o presente. Não havia comparação. Uma maçã não era mais doce que a outra, um filho não era melhor que o outro na hora de receber presentes. Era aquilo.
Presente se dá. Não se pede. Presente é uma graça que alguém oferece em retribuição, ou pelo simples prazer de ver algum olho brilhando. Presentes significativos fazem chorar. Presentes errados nos fazem rir. Ganhar sabonete cheiroso, xampu ou colônia poderia ser sinal de desconfiança. Será que ando fedendo? Pais ganham gravatas. Nunca vi um pai reclamando que sua gravata era pior do que a gravata do cunhado. Pedir presente é mais um subterfúgio do consumismo natalino.
Irmãos pedem presentes. Já sabem o que irão ganhar. Acho que a maior sacada do meu natal era a surpresa. O que eu ganharia? Quem me daria o que? A maioria hoje já sabe o que irá ganhar. Não tem graça. Fora amigo secreto. Que na maioria das vezes nem é mais secreto.
Filhos reclamam que são injustiçados, são tratados de maneira diferenciada. Que são menos amados do que os outros irmãos. A irmãzinha, terceira da família que é a mimadinha do papai. O primeiro filho, primogênito, que merece maior respeito. E o segundo, sempre o rebelde da família, por justamente estar no meio. Nunca igual, nunca melhor. Por que?
Educação é hoje a coisa mais difícil de se definir, mesmo que pedagogos tenham orgasmos piagetanos. Os vetores sociais de comportamento são múltiplos e multifacetados, o que torna a educação e o aprendizado mais complicado que os doze trabalhos de Hércules. Como criar, o que priorizar na Educação, que informações os filhos podem ou não podem ter. Falo de morte com minhas filhas desde que eram pequenas e com a maior naturalidade possível. Na minha morte, chorarão de saudade, pela perda, não pela morte em si. Faço errado?
Não criamos os filhos de igual modo. Mesmo que sejam gêmeos e andem ridiculamente com a mesma roupinha, são apenas semelhantes, não iguais. Agora, criar filhos diferentemente não significa que um seja melhor ou mais amado. Significa que respeitamos as diferenças de personalidade de cada um. Uma maneira de falar para com o maior. Outra maneira de falar com o menor, o mesmo assunto. Conteúdo igual, retórica e discurso diferente.
Respeito, boa educação, amabilidade, sociabilidade e cidadania é igual para todos. O mesmo respeito que temos por chefes, superiores, ou aqueles que nos alimentam, devemos ter pelos filhos. E ensiná-los a ter este respeito. Não são limites. São filtros. Sermos amáveis é normal, não é exceção. Sendo amáveis, nossos filhos naturalmente o serão. Crianças aprendem mais por modelagem e imitação do que por discursos e métodos mirabolantes. Sendo, eles serão. Não comparando, eles não compararão. Não julgando, eles não julgarão. Não jogando, eles não jogarão. Ou então faça como eu: juntarei dinheiro pra comprar um note pra maior e um PC pra menor. E haja conta de luz...

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