8 de out. de 2010

Pulga na Orelha

Bichos espertos. Ao longo dos tempos desenvolveram a habilidade de se deslocar rapidamente através de saltos. Difícil para um ser humano, lento e desajeitado (para os padrões pulgueanos), conseguir capturá-la sem pegá-la desprevenida.
Orelha. Mais especificamente, pavilhão auricular. Amplifica e, antigamente, direcionava-se para o lugar de onde o som vinha. Alguns ainda conseguem mexer as orelhas. Vide, por exemplo, Mr. Bean.
A expressão diz tudo o que quer dizer. Não é fácil apanhar uma pulga atrás da orelha. Carne macia onde torna-se fácil colher sangue, alimento vital do nobre inseto. Ela ficará ali, incomodando, perturbando.
Essa expressão é largamente usada quando nos deparamos com algo que ouvimos dito de maneira convicta, como verdade única e absoluta. Ficamos ali, travados, tentando achar argumentos tanto para acreditar naquilo, quanto para refutar. Não adianta. Quanto mais tentamos nos resignar ao que foi apresentado, mais a pulguinha suga o sangue da nossa desconfiança.
Uma coisa na organização eleitoral brasileira tem deixado alguns brasileiros com uma pulga atrás da orelha: a urna eletrônica. Propagandeada como o progresso tecnológico do processo eleitoral, pelo jeito ela veio pra ficar. E como não vivemos numa democracia, e sim numa república onde a única liberdade é a obrigatoriedade de ir ao local de votação (podemos não votar, escolhendo branco ou nulo), não fomos consultados se ela fica ou não. Foi simplesmente empurrada goela abaixo. Mais uma pulga...
Divulgam em altos brados a segurança oferecida por tal artefato. O curioso é que na tecnologia de ponta, tudo o que aparece de novo no mercado é prontamente abarcado, sendo copiado, modificado e aperfeiçoado. Poucos são os países que compraram a ideia da urna eletrônica. Outros a abandonaram e retornaram ao papel. Países altamente desenvolvidos não migraram para a urna eletrônica. Na brasilândia da corrupção estrutural e conjuntural, nem o software nem o hardware escapam da maracutaia. Sua orelha está coçando? São as pulgas. Muitas.
Urna eletrônica computa os votos de maneira individual? Se o faz, então não é mais voto secreto. Já vou avisando: anulo meu voto. Urna é inviolável? Quem disse? Alguém do governo, eleito através dela? Mais pulgas, poucas orelhas.
Sob o pressuposto da democracia, deveríamos ter o direito de “ver” os votos da tal urna. De acompanhar todos os veículos que as levam e trazem. Se a tecnologia criou uma urna eletrônica inviolável, pode muito bem criar mecanismos para tal.
Asterix, o gaulês, no episódio “O Combate dos Chefes”. Nele, há um relato muito curioso. Uma tribo promovia eleições, todos votavam, e quando as urnas estavam cheias, eram jogadas ao mar e o mais forte assumia a liderança. Absurdo. Mas a história pode achar hilária a crença na inviolabilidade da urna eletrônica. Lutero também desdenhou da infalibilidade do papa.
Nem sempre a tecnologia tem a melhor solução para os problemas. Pulgas coçam . Elas necessitam sugar sangue para viver e nós… precisamos refletir para duvidar.


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3 comentários:

  1. Verdade. Urna eletrônica é ruim. Acho que pelo exemplo dos tempos de Asterix a gente devia pegar uma pedra e gravar nela o voto Os seis votos. E depois seria bem legal e prático apurar 16 milhões de votos em placas de pedra, não é ?
    ;-)

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  2. Oops, 191 milhões de votos. O que seria divertidíssimo.
    ;-)

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