6 de ago. de 2010

Pais

Desde longa data os arautos da desgraça vêm anunciando o fim da família enquanto instituição social. Fala-se na tentativa, desesperada, de se resgatarem valores já relegados a quarto plano. No que tange a valores familiares, para que se possa resgatar alguma coisa, dever-se-ia proibir o divórcio. Óbvio que isto soa, no mínimo, como absurdo, atualmente.
Papéis. Não se poderia esperar outra coisa de uma sociedade estratificada. E no mundo da futilidade comunicativa de eternos rótulos, somos de tudo um pouco. Pais, até.
E somos pais, num mundo de mães. Aqueles homens que quebraram os grilhões do machismo chauvinista tornaram-se pais mais presentes, mais amigos e porque não, mais crianças? As renovações compensam a falta de valores antigos, considerados bons para a sociedade. Pais mais presentes, independente de viverem ou não com as mães de seus filhos.
Sou produto de família dividida. Tive dois pais e sinto-me privilegiado por isso. Uma grande contribuição dessa situação foi a visão disfocada que tenho da realidade: a de não enxergar apenas uma alternativa para as coisas, mas no mínimo duas. Dois pais diferentes, com duas visões de mundo diferentes. Edipicamente falando, tive de matar dois pais. Bobagem. Tenho-os comigo constantemente fazendo parte de meu ser. E sou feliz com isso.
Não sou dado a datas comemorativas porque o comércio as abarcou como suas. Apenas aproveito a intensidade do momento para discorrer sobre a comemoração. Pais quarentões como eu, que já aproveitaram sua virilidade satisfatoriamente e hoje choram em filmezinhos românticos, preferem receber um abraço apertado de seus filhos ouvindo, orgulhosos, “o quanto você é importante em minha vida”, a ganhar o último grito em televisão de LCD. Lembro-me muito bem quando ganhei a primeira carta do dia dos pais. Fiquei lendo e relendo sem parar por dias. Ali, naquele papel rabiscado, cheio de garatujas, eu vi que era pai, ou melhor, que alguém me considerava pai. Agora, neste momento em que estou escrevendo esta crônica, estou ao lado de minha filha no posto de saúde, esperando que ela seja atendida. Hoje então, foi também meu dia dos pais, com toda a intensidade desta significação.
Neste dia dos pais, digamos a eles o quanto os amamos e o quanto são importantes para as nossa vidas. Mesmo que eles já tenham se ido, digamos isto para o pai que vive dentro de nós. Sim, porque o maior legado de um pai, a educação e o exemplo, vivem em nosso interior. Não importa se o pai genético não foi presente. Alguém cumpriu esse papel, ainda que fosse uma vizinha ou a própria mãe. Como havia dito anteriormente, os termos pai e mãe já transcenderam ao gênero. Feliz dia dos pais. Com certeza, não há presente maior do que este.

Nenhum comentário:

Postar um comentário