3 de ago. de 2010

Fórmula para Um

Esporte. Desde tempos imemoriais, uma fórmula de vitalidade e superação dos limites. As Olimpíadas eram sagradas. O atleta que as vencesse, seria considerado um verdadeiro herói, quem sabe um semideus. As justas medievais não testavam somente o condicionamento físico do contendor, mas seu caráter, o que mais tarde transformou-se no espírito esportivo. Como o esporte é um produtor de vencedores, e, portanto, parâmetros de sucesso, não tardou muito para que o modo capitalista de ser usasse o esporte como arma de propaganda. Até aí, tudo bem.
O que temos visto no mundo da pós modernidade é no mínimo, curioso. A ciência, a tecnologia e o patrocínio tornaram-se a “tríade intrínseca” por detrás da superação. Em nome do resultado e da manutenção deste, foi criado o contrato, com cláusulas bem sólidas de conduta. O atleta não pertence mais a si próprio. Ele pertence agora a um conglomerado de instituições comerciais. Nada mais apropriado para quem quer vencer campeonatos.
Lembro-me claramente de minha pré-adolescência e de como penava para ser aceito no meio social onde vivia. Tocar um instrumento não era algo assim muito valorizado, mesmo porque o game dominante dessa minha época era o jogo de botão. Se fosse o Guitar Hero, talvez eu exercesse maior poder sobre meus amigos. Bem, tive de me esforçar muito para jogar bola de modo satisfatório, para não sofrer a humilhação de ser o último escolhido para compor um time. Não havia lido ainda Sun Tzu, porém minha estratégia logrou êxito: tornei-me um eficiente defensor. Marcava, retomava, passava e lançava com uma considerável eficiência, reconhecida pelos meus amigos. Não fui craque, mas não era um pé torto. O bom do amadorismo é que não precisamos assinar contratos. Não sofri nenhuma crise ética por causa disso. Consciência ética e letrinhas miúdas de um contrato definitivamente não combinam.
Esporte profissional. O termo hoje em dia encontra-se no plano do contra-senso, do ponto de vista da liberdade de praticá-lo. Concentrações, dietas (desculpe, Ronaldo), direitos (e deveres) de imagem, fama, cláusulas punitivas, condições impostas por quem patrocina, só para citar. Quanto mais popular o esporte, maior o número ds cláusulas. Vidas e mortes constantemente expostas porque, se o bom exemplo traz dinheiro, pelo menos aqui na brasilândia, os maus exemplos trazem mais ainda.
Amo a Fórmula 1. Não sei porque, vejo mais graça na velocidade do que 44 pernas em movimento cuja bola é a centralidade e o gol, o céu ou o inferno, dependendo do ponto de vista. Pilotos a trezentos por hora lidando com o tempo, desgaste do motor, dos pneus, vencendo dificuldades mecânicas, pressões psicológicas dos donos de equipe… Um verdadeiro rizoma de forças que transformam-se em dominantes numa fração de segundos. No futebol é bem mais simples: em caso de derrota continuada, vão-se os técnicos, ficam as pernas.
Falando em pernas, Barrichelo teve de abri-las num passado não muito distante. Schumacher somava mais pontos. Schumacher devolveu mais tarde, um perfeito gentleman. Afinal, não é somente no futebol que existe o jogo de comadres.
Num Deja Vu manjado, a história apresenta seu retorno. O carro ia bem, a corrida estava na mão. Mas o contrato não. A sede de vitória do eqüino vermelho foi além da prática esportiva. Tá no contrato da vida, vencer sempre, não importa o custo. A conhecida frase “o importante é competir” obviamente foi escrita por alguém que não conheceu o verdadeiro gosto da vitória e por quem ficou famoso com ela.
O frustrante não é saber que o esporte profissional é assim. O frustrante foi ver o rosto conflitado dos dois pilotos quando se encaminhavam para o podium. Humilhação maior foi de quem ganhou sem ter vencido. A fórmula para um esporte verdadeiro é cortar os elos com os contratos. Afinal, superação é o que conta para quem torce.

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